Apesar de tombamento na Vila Mariana, ainda há áreas remanescentes que interessam construtoras
Moradores da região da Vila Mariana, conhecida como Chácara das Jaboticabeiras solicitaram processo para tombar área de 50 mil m². Eles temem o avanço descontrolado de grandes empreendimentos. Por outro lado, a associação do bairro não gostou da decisão e diz que área que devia ser preservada, por toda sua história, ficou de fora do projeto.
Tombamento na Vila Mariana
Na semana passada, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp) da cidade de São Paulo aprovou o tombamento na Vila Mariana, de um trecho da área da Chácara das Jaboticabeiras, zona sul da capital.
Entretanto, parte do território, que ficou de fora do parecer do órgão e pode sofrer alterações, é alvo do mercado imobiliário. Isso porque a área tem vários atrativos, como muito verde, proximidade dos parques Ibirapuera e Aclimação, além de duas estações do metrô, linhas de ônibus e um amplo comércio.
Pedido de tombamento
O pedido de tombamento partiu dos moradores da Chácara das Jaboticabeiras. Mas ele foi feito há dois anos à gestão municipal, por conta do temor de que a região fosse alvo de construções, prejudicando a preservação histórica.
A região, de 50 mil m², tem ruas de paralelepípedo e fica entre a Avenida Conselheiro Rodrigues Alves e as ruas Joaquim Távora e Humberto Primeiro. Estas ruas possuem casas históricas e guarda a nascente do córrego Gariba, que chega ao Parque Ibirapuera.
Debate desde julho
O debate começou no Conpresp em julho. Porém, foi adiado depois de um dos participantes do conselho solicitar mais tempo para analisar o caso. Sendo assim, ele foi retomado, virtualmente, apenas em 22 de novembro, com resultado de 5 votos a favor e 3 contra.
Mas moradores da região não gostaram da decisão do Conselho. Isso porque ele autoriza a demolição de algumas casas históricas. Uma delas pertenceu ao ex-prefeito Prestes Maia. Outro exemplo é que a construtora Constrac é dona de um terreno no coração deste quadrilátero.
Segundo Flávio Matunaga, morador da região, em entrevista ao G1:
“As coisas ainda estão construídas, não foram demolidas. Então a gente tem que tentar lutar o quanto possível pela preservação integral da Chácara, porque é uma coisa que vai ser boa para a cidade inteira. Estamos tentando preservar.”
Já o Plano Diretor da cidade é que define as regras para construção de prédios em cada região. E ele passaria por uma revisão neste ano. Porém, o projeto foi adiado para o ano que vem, por causa da pandemia.
Processo de tombamento
Em 2019, começou o processo de tombamento, solicitado por um grupo de moradores da Vila Mariana. Surgiu assim o Coletivo Chácara das Jaboticabeiras. A solicitação foi encaminhada ao DPH.
Sobre isso, a arquiteta e membro do coletivo, Jurema Alves de Oliveira, argumentou:
“Esse projeto foi feito por Prestes Maia e Paulo Taufik Camasmie, que são pessoas importantes do urbanismo no começo do século. A gente tem esse arruamento curvilíneo que queremos manter, temos a permeabilidade do solo, temos casas baixas, temos muita arborização.”
Além disso, uma figueira plantada no local há quase 100 anos, já saiu do alcance dos raios do sol por causa de uma construção ao lado.
Constrac
Em contrapartida, a construtora que acompanha o processo de perto, a Constrac, possui grandes terrenos na região. Ela argumenta que “investiu muito alto”, e que algumas ruas já não possuem mais as características de sua formação. Além de a região ser regulamentada. Mas muitos moradores não querem o tombamento, e que isso traria mais burocracia aos empreendimentos.
No entanto, o tombamento possibilitaria manter o respeito a uma altura máxima para novos empreendimentos, manutenção da permeabilidade do solo, e a preservação de nascentes de córregos que os próprios vizinhos descobriram.
Os moradores revelaram ainda que nos últimos anos passaram a se deparar com demolições de casas antigas da região. Também foram abordados por imobiliárias e construtoras. Com isso, ficaram com medo de que o local fosse descaracterizado.
Para elaborar o pedido de tombamento, o coletivo contou com a ajuda de especialistas, que os ampararam com informações técnicas.
*Foto: Reprodução/TV Globo