Com o avanço da pandemia do novo coronavírus, o setor livreiro se viu obrigado a adotar novas regras nos últimos dois meses. É o caso das livrarias de BH, que reabriram ontem (25), mas adotando medidas mais restritivas de distanciamento social, a fim de evitar a contaminação da doença na capital mineira para que seus clientes continuem adquirindo cultura em meio à crise que assola o país.
Empresários locais contaram ao jornal Estado de Minas como estão driblando a situação neste período.
Livraria de BH em meio à pandemia
Segundo a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, o horário determinado para a reabertura das livrarias de rua estava marcado para 11h. Com isso, Cláudia Mazini e Alencar Perdigão, da livraria Quixote; Bernardo Ferreira (da terceira geração de proprietários da Ouvidor, livraria já com 50 anos de vida); e Welbert Belfort, da Scriptum (que completou 23 anos neste mês) abriram suas portas pela primeira vez em mais de 60 dias.
As três livrarias estão localizadas na Rua Fernandes Tourinho e ao longo desse período tiveram de encontrar soluções para driblar a crise. A forma encontrada por todos eles foi realizar o atendimento remoto. No entanto, as vendas não chegaram nem perto do que estavam acostumados com as lojas abertas, mas conseguiram manter os negócios de pé nestes mais de dois meses. E apesar de tudo não demitiram nenhum funcionário, só os mantiveram afastados.
Como serão as próximas semanas?
Cláudia admite que ainda é cedo para medir o impacto que as próximas semanas e meses reservam e que não se sente “completamente segura”. Ela dividirá o atendimento desta reabertura com Alencar e sem os funcionários. Belfort afirma que o comércio online e as parcerias que realizou com as editoras Autêntica, Companhia das Letras e Boitempo, que lhe possibilitaram ter um volume de venda, apesar de abaixo do normal.
Promoções
No caso da Scriptum, as promoções serão mantidas mesmo com a reabertura da loja: livros em espanhol e em francês, com 30% de desconto; livros da Autêntica, 20% mais baratos.
Já para Belfort, o momento também pede um funcionamento mais enxuto, já que o movimento do público que trabalha na região “não vai existir” por enquanto.
Outro ponto que ele enxergou foi que houve muito pouca empatia do povo da capital mineira:
“Se os amantes de livros continuarem comprando em grandes redes comerciais, nas quais a palavra livraria não faz parte da razão social da loja, a tendência é que as pequenas livrarias locais não tenham condições de subsistir. Será que não está faltando empatia e ação da nossa sociedade, que tem um pouco de apreço pela cultura municipal e mineira?”
Bernardo Ferreira trabalhou sozinho na livraria Ouvidor, de portas fechadas, durante o primeiro mês de quarentena. Em abril, contou com a ajuda de um funcionário. Já a partir desta semana, a loja contará com todos os funcionários:
“Continuamos atendendo realmente para não parar, pois a venda foi 15% do que costumamos vender.”
Estoque das livrarias de BH
O estoque da livraria Ouvidor não teve reposição, em função da loja fechada neste período. Os novos títulos, lançados em março, só chegarão agora que a reabertura foi autorizada pela Prefeitura da cidade. Porém, como as distribuidoras também já estão em funcionamento, os pedidos de títulos não disponíveis são feitos na hora. E a entrega é prometida para o dia seguinte.
Na Quixote, há o destaque de um livro que fala sobre contágio, um ensaio do escritor italiano Paolo Giordano, publicado por lá em março e que chegou ao Brasil no formato e-book em abril, pela editora ítalo-brasileira Âyiné. Agora, a obra em papel já está disponível.
Claudia conta que no período de portas fechadas, recebeu pedidos de livros por WhatsApp, tanto de antigos clientes, como também de clientela nova:
“Falei com muita gente nova, gente que acabou virando cliente. Muitos pediram sugestões de presentes.”
Ela reforça que além dos livros que falam sobre pandemia, como: “A Peste” (1947), de Marcel Camus, considerado um Best-seller mundial neste momento, também foram solicitados volumes do “Ensaio sobre a cegueira” (1995), de José Saramago, e “Ideias para adiar o fim do mundo” (2019), de Ailton Krenak; a livreira sugeria sempre o pequeno livro de Romain Gary/Émile Ajar, “A vida pela frente”:
“Foi um momento de delicadeza e de troca de afeto que se deu através dos livros.”
Fonte: jornal Estado de Minas
*Foto: Divulgação/Edésio Ferreira – D.A Press