Flores comestíveis têm espaço de degustação em Santo André; iniciativa cultiva espécies que embelezam e também alimentam
Desde a semana passada, com intuito de celebrar o início da Primavera, o projeto Agrofloresta Comunitária, junto a moradores do Jardim Alzira Franco, em Santo André, realiza o plantio, colheita e a experiência conjunta de harmonizar a temporada com a mesa.
Flores comestíveis em Santo André
Entre as 15 Pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) presentes nos canteiros da horta comunitária de 37 anos, existem espécies conhecidas, como o girassol e a rosa. Contudo, todas as opções de flores comestíveis a serem degustadas estão no banquete da oficina, que teve a estreia do cronograma de atividades gratuitas na última terça-feira (26), das 10h ao meio-dia.
De acordo com a coordenadora Ubimara Ding do projeto que pertence ao Nasa (Núcleo de Ações Socioculturais Ativista):
“Nosso intuito, de agroflorestamento, faz a comunidade perceber que é possível ir além da monocultura que vivemos na sociedade, justamente por cuidar de espécies que dialogam com outras. Por isto, também o aproveitamento de flores para refeições, chás, sucos e até drinks”
O projeto é financiado há um ano pelo Fundo Municipal de Gestão e Saneamento Ambiental em parceria com a Horta Comunitária das Nações.
Lista das flores do local
No local, as flores que ao mesmo tempo embelezam e alimentam são a:
- Malva visto, recomendada para ornar com pratos doces;
- Capuchinha, que, em talo, pétalas e folhas, tem sabor similar ao agrião e é convidativo a saladas;
- Tagete, que serve para atrair insetos polonizadores aos jardins, como as borboletas, é utilizada como condimento;
- Flor de manjericão roxo, que é um dos indicativos para um molho pesto mais aromático e com maior amargor;
- Calêndula e cravínea, que têm sabor e cheiro neutro, sendo excelentes opções para a decoração de pratos e bebidas;
- Além da amor-perfeito, pigmentada em tons de roxo, a flor é aposta de pigmentação em bebidas solventes (alcoólicas) e de alta temperatura (chás).
Cultivo e consumo em casa
Todavia, para quem visa o cultivo e consumo na própria residência a dica dos organizadores é simples: seguir os ciclos mais naturais da planta, evitando o uso no solo de produtos químicos e, posteriormente, higienizá-la com borrifadas de água fria. Quando bem conservadas, as colhidas duram cerca de dois dias. Já para compra, o valor de mercado com 40 unidades sai na faixa de R$ 25.
O projeto
As próximas oficinas comestíveis e ações primaveris são apenas um dos “floreios” do coletivo responsável pelo projeto, que, no fundo, deseja mesmo “agroflorestar” 10 mil m² de área de preservação permanente ao redor da nascente mais próxima à horta parceira, distante a menos de 2 km do projeto.
Com isso, o diagnóstico é que junto ao monitoramento da água, já foram plantadas dezenas de árvores nativas nas áreas alagadiças próximas e instalados filtros biológicos que impactam diretamente na qualidade dos alimentos plantados.
Apesar de estar na reta final, existe a expectativa de que o trabalho se mantenha. Isto pode ocorrer pela nomeação de 10 membros do projeto, como “guardiões locais”, e pelo legado perpetuado na educação da comunidade local.
Voluntariado
Aos 58 anos de idade, e indicada pela própria psicóloga, Maria José Santana, por exemplo, achou no projeto apoio para superar traumas e problemas familiares com foco no conhecimento compartilhado, que foram além da confecção de itens de decoração, sabonetes, repelentes ou pomadas com ervas medicinais e aromáticas, mudando assim seu cotidiano para a melhor.
Junto às amigas, Maria Edite, 58, que afirma ter vencido a timidez nas oficinas, e Alda Célia, 57, que diz ter melhorado a própria alimentação após as experiências e até expandido o próprio atêlie de costura, Maria J. Santana também aproveitou a Agrofloresta Comunitária para gerar renda e fará lançamento da oficina de costura, sendo uma das expositoras da 2ª Edição da Feira Saberes e Sabores, organizada pelo coletivo.
Avanço significativo
Por fim, o ambientalista e neto de uma das fundadoras da horta, Raphael Santana, diz que o avanço é significativo e extrapola os limites do bairro. “Minha avó tinha 11 filhos e, em extrema pobreza, muitas vezes o que tinham na despensa era o que estava apenas na horta. Por isso, acredito também no potencial da educação ambiental. A causa simplesmente cresceu, sem marco temporal, e agora a gente visa o máximo de inovação pela causa, desde trabalhar com produtores locais (para venda de escova de bambu, mel, vassoura, ecobag), a até captar lixo eletrônico dos moradores, tampinhas e óleo usado.”
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/visor-superior-do-cha-cheio-de-flores_4714184